Espaço Ubunto

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

PALAVRÃO DO PRESIDENTE

Lí este testo e tomei a liberdade de coloca-lo em meu blog, por ter tortal acordo com ele. O uso da palvra "merda" pelo Presidente Lula, causo um grande rumor na mídia branca brasileira. Este palavrão ouvimos todos os dias, até porque sabemos que parte da sociedade brasileira está nesta situação.
Por tanto se queremos mudar a realidade do povo brasileiro, nossa mída precisa parar de falar asneiras e começar a falar a linguagem do povo.

Opinião / Mídia
11/12/2009
O presidente e o palavrão que incomoda
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Se tratar da língua é tratar de um tema político, a fala sem rodeios do presidente Lula, durante cerimônia de assinatura dos contratos do programa Minha Casa, Minha Vida, no Maranhão, vai encher a seção de cartas de jornais e revistas, além de dar o tom do moralismo seletivo dos grandes articulistas. Fingirão não saber que palavras tidas como chulas são formas lingüísticas ímpares para expressar emoções que permeiam o corpo e os amplos campos das relações sociais. Não está em questão se o emprego se deu em contexto adequado, mas o que move o coro dos "indignados".

Ao afirmar que "eu não quero saber se o João Castelo é do PSDB. Se o outro é do PFL. Eu não quero saber se é do PT. Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto", Lula tem consciência de que os opositores dirão que desrespeitou a postura pública que deveria manter em face de majestade do cargo que ocupa. Tanto que se antecipa à crítica anunciada: "Amanhã os comentaristas dos grandes jornais vão dizer que o Lula falou um palavrão, mas eu tenho consciência que eles falam mais palavrão do que eu todo dia e tenho consciência de como vive o povo pobre desse país".

Como tem sido colonizada para ter vergonha de ser o que é, uma boa parcela da classe média urbana se apresenta como defensora intransigente da propriedade, da família e do Estado Patrimonial. Confunde governo e salvação, ignora a representação, desconhece direitos sociais e políticos, menosprezando a exploração econômica, embora seja "mobilizável" por campanhas de caridades que reforcem a sua imagem de privilegiadas. Em busca de ilusões perdidas, está disponível para aventuras que realçam a ferocidade dos seus recalques. E qualquer enunciado que apresente um padrão variante é o suficiente para açular o seu ódio de classe.

Pouco lhe importa se campeia a violência, a truculência e a miséria. Em seu ilusório casulo, o que merece relevo é o destempero verbal de um presidente que não segue os padrões dos antigos donos do poder. É de pouca importância se o governo anterior reduziu a zero os empréstimos da Caixa Econômica Federal às autarquias e estatais da área de saneamento básico. Também não lhe tira o sono se a decisão política do tucanato provocou, além da dengue, surtos de cólera, leishmaniose visceral, tifo e disenterias. Ora, doenças resultantes da falta de saneamento não lhe incomodam. A merda que lhe aflige é aquela que aparece no improviso presidencial como dado concreto.

Para Lula, o descalabro no saneamento é uma tragédia, e, de fato, o é. Por sua história, o presidente faz parte de uma legião de sobreviventes. De um exército que resistiu a séculos de dificuldades imensas, naturais e humanas. Tem orgulho saudável de sua força. Da força desse povo que come mandacaru e capulho verde de algodão e ainda tem a esperança desesperada de querer viver. Isso é coragem, é grandeza. Essa é a merda que causa engulhos na grande imprensa e nos seus leitores indignados. Mas indignados com o quê, afinal?

Indignados pela existência de erros que se repetem há tempos? Indignados pela impotência de um saber divorciado da dimensão histórica e da responsabilidade social que deveria caber aos centros de ensino que freqüentaram? Indignados pela ameaça, concreta e imediata, da morte, pela fome endêmica e, até bem pouco tempo epidêmica, dos mais miseráveis? Não. O que os ruborizados pelo emprego da palavra "merda" não suportam é a ausência do promotor da "paz social", do garantidor de uma ordem política que lhes oferecia, através do conservadorismo autoritário, uma institucionalidade que muito apreciavam ética e esteticamente. Um simulacro de república feito sob medida.

O problema é que a vestimenta institucional brasileira parece calça curta, fazendo o país caminhar desajeitado, com medo do ridículo. A reforma mais urgente requer produção crescente de cidadania, a criação incessante de sujeitos portadores de direitos e deveres. Em uma sociedade fracionada, essa é a merda que ameaça e choca os estamentos mais reacionários: a realidade que não deveria ter emergido com modelagem tão nítida.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro

COMENTÁRIOS

Fui aluna do prof. Gilson Caroni ainda no primeiro ano da faculdade de jornalismo. Na verdade, o verbo ser no passado (fui) não é o melhor pra designar o meu sentimento com relação a alguém que não é só prof., é mestre. E mestres nos continuam ensinando ao longo da vida, seja através da lembrança de suas palavras, seja quando suas palavras continuam vivas através de artigos. Acompanho os artigos do Gilson há muito tempo. Sempre magistrais, mas, claro, uns mais magistrais que outros. Eu tive conhecimento deste artigo através do Jornal do Brasil. Queria aproveitar que ele está também publicado aqui no site do PT para registrar que lê-lo provocou em mim algo que tem sido raro ultimamente: me fez verdadeiramente ter prazer em abrir um grande jornal pela manhã. Estou começando no Jornalismo, mas tenho consciência da quantidade de merda (sim, é essa mesmo a palavra) que a grande imprensa tem produzido neste país. Este texto inverte a lógica. Está primoroso, absolutamente delicioso de se ler. Há uma passagem emblemática, que fala que a força de Lula vem "da força desse povo que come mandacaru e capulho verde de algodão e ainda tem a esperança desesperada de querer viver. Isso é coragem, é grandeza." Isso chegou a me fazer lembrar Luther King que dizia: "Se eu soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim eu plantaria uma macieira". Ao Gilson, quero deixar aqui registrado o orgulho enorme que tenho de tê-lo como meu eterno mestre. Ao Lula, se eu pudesse dizer algo, gostaria apenas de dizer que quem planta a quantidade de macieiras que ele planta todos os dias, em terrenos que muitos consideravam fadados à merda, tem todos os meus aplausos e teria também os de Luther King.

Ana Helena Tavares
Rio de Janeiro

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