Meu amigo negro foi empossado ministro
por Arísia Barros
Elói Ferreira de Araújo é filho de pai lavrador, e mãe doméstica, com uma história de menino negro e pobre que se mistura a tantas outras da infância excluída no Brasil.
Em 01 de abril de 2010 Elói Ferreira tornou-se Ministro de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Em contraponto ao 1º de Abril de 1964 quando a liberdade seguiu para o exílio, a posse de Elói Ferreira de Araújo, como ministro simboliza, nesse abril de 2010 uma rachadura na ditadura dos espaços de poder do país em que o racismo, ainda, é estruturante.
A posse de um ministro negro mais do que uma mera subtração nos dados da exclusão étnico-política, sinonimiza uma nova percepção de revolução, a partir da apropriação e garantia do discurso social do negro como ator político.
É uma quebra mesmo que,ainda, simbólica da bifurcação racial historicamente criada para alinhavar na costura social à imagem normativa dominante e imperativa,hierarquizando modelos, estilos e performances que minimizam o capital humano a partir da sua representação étnica.
No entanto o número, ainda, mínimo de negros ocupando cargos de poder maximiza as restrições de acesso dessa população ao poder.
Apartheid político!
A posse do ministro negro estabelece possibilidades de problematizar na internalidade dos espaços de poder a questão do racismo, como prática, que segrega, humilha e , discrimina.
Como prática a ser combalida.
Elói Ferreira é um homem- político cuja prudência, sensibilidade e sabedoria ancestral produziram referencias em Alagoas.
O referencial do compromisso-coletivo como forma efetiva de estabelecer uma agenda proativa para o combate as desigualdades sócio-étnicas que eclodem nos quatro cantos e recantos do Brasil.
O lugar que agora ocupas, meu caro Elói é o lugar da competência. É seu/nosso dos grupos socialmente discriminados e marginalizados dentro da superestrutura do apartheid institucionalizado.
Tenho em Elói Ferreira um amigo dileto e um parceiro político com capacidade de doação e desprendimento.
Quando do afastamento da Gerência de Educação Étnico-Racial da Secretaria de Estado da Educação/Alagoas, em 2008, Elói, o amigo, se fez presente nas palavras com cor e cheiro de retomada: “Prezada Arísia, Seu entusiasmo com as perspectivas do trabalho de promoção da igualdade racial e social contagiam a todos. Continue lutando, cativando, agregando, enfim fazendo amigos e companheiros, porque nós é que te dizemos obrigado por tanta dedicação e desprendimento na luta por um Brasil cada vez melhor e mais igual. 2008/12/5 Um abraço, 2008/12/5”
Elói Ferreira, o homem-político, foi, é, presença marcante no exercício étnico-político em agendas do Projeto Raízes de Áfricas, Maceió/Viçosa/Alagoas.
Fico imensamente orgulhosa em dizer que o homem negro que hoje ocupa a cadeira de ministro é meu amigo. Orgulho por ter participado da posse e da festa regada a Leci Brandão, no Clube das Nações, em Brasília. A emoção de estar em espaços que historicamente, o povo negro não entrava deu a tônica.
Reafirmo palavras já sabidas, meu caro Elói, sou uma orgulhosa mulher negra por tê-lo como amigo e por meu amigo ter se tornado ministro. Orgulho de afetividade e pertencimento.
A posse de Ferreira afirma a necessidade de ocuparmos os “miscigenados” espaços de poder.
O desafio está posto Excelentíssimo Senhor Ministro. A tarefa poderá parecer penosa e desgastante, entretanto lembre-se, sempre, da sua extraordinária competência para exercê-la.
Siga em frente, Excelência! Estamos a postos!
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