O vizinho da esquina e a anunciada morte de Amy Winehouse.
Arísia Barros
A mãe na porta de casa chora pelo filho que um dia tivera, hoje, vivente das ruas da grande Maceió. Um farrapo humano órfão de expectativas de futuro. A mãe conta que o seu menino sempre fora bom e foram as drogas que o desviaram para esses caminhos de sonhos envelhecidos. A alma dele é boa afirma a mãe, entre lágrimas presas pelos anos de uma solitária luta.
É manhã de sábado e chove muito. A paz da mãe do menino vive um tempo caoticamente invernoso. Desde os 15 anos que, o então menino, evadiu-se pelos becos tortuosos do vício pagão de fé. Agora conta 22 anos.
A voz da moça famosa rescende a um turbilhão de sensações. Nascida Amy Jade Winehouse, a jovem cantora morre aos 27 anos.
A moça, cantora famosa de uma voz extremamente singular e poderosa, morreu doente pelo excesso de drogas. A droga é uma substancia traiçoeira, que abrevia o presente e passa uma borracha no futuro, dessas que antes de roubar-nos a vida, seqüestra a dignidade humana.
Em suas muitas apresentações a cantora londrina já cantava e contava a história dos vencidos, testava até o máximo sua capacidade de auto-aniquilação.
Impiedosamente a vida intensa caí-lhe do colo.
A nudez do corpo exposto às mazelas do auto-abandono fazia da moça uma estrela às avessas, apesar do brilho, o espírito vivia aos tropeços. Faltava-lhe equilíbrio na escuridão dos palcos.
O menino que vive jogado entre o ocaso e o nada, também, tem tropeçado nas oportunidades que a vida proporciona, segundo a mãe que tanto chora. Até um emprego federal trocou pelas ruas.
A moça, cantora famosa de 27 anos e o jovem vizinho pobre de pele quase preta, que vive nas ruas de Maceió, mesmos separados por universos diferentes, compartilham hoje de uma mesma sepultura: são dependentes químicos.
A Organização Mundial de Saúde reconhece a dependência química como doença progressiva, incurável e multifacetada, atingindo o ser humano em todas as suas áreas: física, psíquica e social, potencialmente fatal.
A saúde como um bem essencial à dignidade humana é uma obrigação do poder público. A ausência de políticas públicas recorta a vida e cola na tela o exílio da morte. E a mãe do menino contando as contas de um rosário invisível afirma convicta: Deus vai me ajudar a salvar meu filho. Eu sei!
Na ausência do Estado a mãe do menino se agarra na crença divina.
I won't return, forever you will wait, canta Amy Winehouse, a jovem cantora, em "You're Wondering Now": “eu não voltarei, para sempre você esperará.”
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