Sobrevivente de crime racista pede clemência para assassino
Atualizado em 18 de julho, 2011 - 08:47 (Brasília) 11:47 GMT
Rais Bhuiyan ficou cego mas se recuperou e perdoou seu agressor
Em um apelo de última hora, o único sobrevivente de uma série de ataques racistas cometidos nos Estados Unidos após 11 de setembro de 2001 está tentando evitar a execução do supremacista branco que os cometeu.
Raisuddin Bhuiyan, um imigrante de Bangladesh que ficou cego após ser atingido por um tiro no rosto, está processando o governador do Texas, Rick Perry, para tentar converter para prisão perpétua a sentença de pena de morte de Mark Anthony Stroman.
A execução de Stroman está marcada para próxima quarta-feira, 20, por injeção letal.
Na esteira dos ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, ele matou a tiros um indiano e um paquistanês alegando “patriotismo” e motivado pelo desejo de vingança pelo atentado. Stroman disse que escolheu as suas vítimas porque elas “pareciam muçulmanas”.
“Não sou um assassino em série. Estamos em guerra. Fiz o que tinha de fazer”, disse, após ser preso, na época.
A irmã dele estava em uma das torres que desabaram após serem atingidas por aviões.
No dia 15 de setembro de 2001, Stroman matou a tiros o paquistanês Waqar Hasan, de 46 anos, que trabalhava fazendo hambúrgueres em Dallas.
Seis dias depois, atirou no rosto de Rais Bhuiyan em um posto de gasolina da cidade. O imigrante bengali sobreviveu, mas ficou cego de um olho.
No dia 4 de outubro, em outro ataque a uma loja de conveniência de um posto de gasolina no subúrbio de Mesquite, Stroman matou o indiano Vasudev Patel.
Os crimes racistas de Stroman causaram revolta e geraram protestos por parte da comunidade do sul asiático nos Estados Unidos, que organizou manifestações para reforçar a sua distância com os autores dos ataques.
Um júri condenou-o à morte em abril de 2002 pela morte de Vasudev Patel, que era adepto do hinduismo.
Redenção
Entretanto, Bhuiyan, o único sobrevivente dos ataques, diz que perdoou o seu agressor e que a aplicação da pena de morte para o pai de família só trará mais tristeza para todos os envolvidos.
“Perdoei-o muitos anos atrás. Na verdade, nunca o odiei. Nunca odiei a América pelo que me aconteceu. Acredito que ele (Stroman) era um ignorante incapaz de distinguir entre o certo e o errado. Se fosse diferente, não teria feito o que fez”, escreveu, no site de sua organização World Without Hate (Mundo Sem Ódio).
O bengali diz acreditar que Stroman não apenas se arrependeu do que fez, como poderia ser um porta-voz em favor da causa contra crimes racistas.
Stroman disse que queria "vingança" pelo 11 de setembro
A dias da execução de seu agressor, Bhuiyan está processando o governo do Texas alegando que não pôde não teve concedido o direito de se encontrar, através de mediação, com o seu agressor, como prevêem as leis relativas ao direito das vítimas.
“Por favor, faça a coisa certa: salve a vida de um homem”, pediu.
Preso e esperando o sua dia no corredor da morte, o pai de três meninas e um menino disse que a atitude de Bhuiyan é uma “demonstração de grandeza”. Em seu blog que atualiza na prisão, o condenado à morte diz que está arrependido.
"Não posso dizer que eu sou um homem inocente. Não estou pedindo que sintam pena de mim e não vou esconder a verdade. Sou um ser humano e cometi um erro terrível de dor, amor e raiva. Acreditem, estou pagando por esse erro a cada minuto e isso me assombra mesmo nos meus sonhos.”
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