Espaço Ubunto

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domingo, 1 de janeiro de 2012

A COR DOS HOMICÍDIOS

Os alertas vêm de longe: morrem mais negros entre 15 a 27 anos, numa taxa que sempre oscila entre 56 a 67% no Brasil. Estes negros jovens que vão para debaixo da terra são emblemáticos: poderiam ser os parceiros de mulheres negras de sua idade.

Neste caso, as negras jovens acabam sem parceiros, pois, a capacidade delas em se associar sentimentalmente com outra etnia (casar-se) é bastante remota, segundo diversos estudos da geógrafa Elza Berquó.

O que restariam para elas sem parceiros? Isolamento, homossexualidade ou mudanças de comportamento imprevisíveis. Em alguns países da América do Sul, algumas se pintam de branco para atrair parceiros.

Na verdade, os homens negros bem-sucedidos têm mais chances de casar com a mulher branca. Não sabemos ainda se a mulher negra bem-sucedida tem esta condição, não sabemos de estudos a respeito.

O que sabemos é que em países da África, América do Sul e Caribe, a mulher negra quer se parecer com a mulher branca. Por culpa de quem? Dos homens negros? Talvez. Esses, historicamente, não vêem a negra como parceira.

A mulher branca, no Brasil, em determinados momentos, vê o negro como parceiro quando este está em outra condição econômico-social, ou seja, que possibilite desfrutar de uma boa condição financeira e social.

Este mote, no entanto, não é o dominante, é claro, mas influencia bastante as relações entre sexos opostos.

No entanto, gostaria de retomar a discussão sobre a violência contra o negro a partir do estudo "Mapa da violência 2012: os novos padrões da violência homicida no Brasil" (Instituto Sangari, SP, 2010). Sei que já houve postagens a respeito, mas é importante dar prosseguimento pela gravidade deste assunto.

Veja, neste sentido, algumas conclusões deste estudo:

- O número de vítimas brancas caiu, entre 2002/2006, de 18.852 para 13.668, e isto representa uma queda de 27,5%.

- Em 2006, morreram proporcionalmente 82.75% mais negros do que brancos. Quer dizer, há cinco anos, no governo Lula, os negros morriam mais, de forma estúpida ou programada.

- As taxas de homicídio caíram 20.6% para 15% em cada 100 mil brancos, queda de 27.1% entre 2002/2010. Já para os negros, as taxas passaram de 30, em 2002, para 35,9 homicídios para cada 100 mil negros, neste período. Isso representa um aumento de 19,6%.

- Em 2002, o índice nacional de vitimização negra foi de 45,8. Isto é, nesse ano, no país morreram proporcionalmente 45.8% mais negros que brancos.

Olhem, este ano foi o ano da primeira eleição de Lula, o PSDB estava deixando o poder, e deixou este saldo trágico?

- Quatro anos mais tarde, em 2006, esse índice pulou para 82,7%.

- As taxas de homicídio caíram 20.6% para 15% em cada 100 mil pessoas, queda de 27.1%, em 2010, para a população branca. Já para negros, as taxas passaram de 30,0 em 2002 para 35,9 homicídios para cada 100 mil negros, em 2010. Isso representa um aumento de 19,6%.

- Em 2002, o índice nacional de vitimização negra foi de 45,8. Isto é, nesse ano, no país, morriam proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos.

- Quatro anos mais tarde, em 2006, esse índice pula para 82, 7%.

- Já, em 2010, um novo patamar preocupante: morrem proporcionalmente em torno de 139%mais negros do que brancos bem acima do dobro dos números anteriores.

OS ESTADOS E SEUS PROBLEMAS

Entre 2002/2010, Alagoas e Paraíba apresentam uma taxa de vítimas negras proporcionalmente 20 vezes maior ao de vítimas brancas, numa escalada que tende a crescer com o tempo em função das quedas marcantes e progressivas de homicídios brancos, em contrapartida aos aumentos gritantes de homicídios negros.

- Mas o Distrito Federal e Espírito Santo apresentam elevados índices de vitimização negra.

- O Paraná apresenta índices de vitimização negra negativa. Ou seja, morrem mais brancos do que negros proporcionalmente. Isso ocorre devido a devido ao fato de a população negra ser insignificante neste estado de grande maioria branca.

- Paraná, Rondônia e Mato Grosso encabeçam a lista de homicídios brancos.

- Já Alagoas, Espírito Santo e Mato Grosso encabeçam a lista de homicídios negros, todos eles com taxas acima de 50 homicídios por 100 mil negros. Muito elevado.

- Os cinco maiores índices de vitimização negra são encontrados nos estados de Alagoas, Pernambuco, Distrito Federal e Sergipe.

O CASO NORDESTE

Devido aos elevados índices de violência contra o negro – e o fato desta região ter o maior número de negros em relação às demais – o nordeste surge como um personagem de grande preocupação neste estudo do Instituto Sangari.

Neste período – 2002/2010- veja os aumentos os números de homicídios por região:

NORTE – 222%
NORDESTE – 188%
SUDESTE – 63%
SUL – 151%
CENTRO-OESTE – 138%
TAXA BRASIL – 111%

Na verdade, como vemos, trata-se de taxas elevadíssimas no número de homicídios.

Vejamos, agora, o caso da região Nordeste. Ou seja, o aumento do número de homicídios neste período – 2002-2010 -, ficou nas seguintes proporções:

ALAGOAS – 260%
BAHIA – 363%
CEARÁ- 229%
MARANHÃO – 281%
PARAÍBA – 307%
PERNAMBUCO – 123%
SERGIPE – 152%
R.G. NORTE – 262%

Vejam, neste sentido, o caso Bahia: tem a maior população negra do Brasil (79,6%) e um aumento estúpido no número de homicídios de afrodescendentes.

Seja em governos conservadores ou progressistas, como o atual, do PT, o que se revela é que os afrobaianos têm sido objetos preferenciais de ações de extermínio.

Outro dado assustador é que quem tem se preocupado com este extermínio são, em geral, militantes da base do movimento negro, com dificuldades pessoais/profissionais, e ostentando ainda estoques intelectuais frágeis para reverberar o problema na opinião pública.

Existe ainda uma certa "ingenuidade transgressora" de alguns que acreditam que os governos devem resolver o problema mudando o foco da polícia, que, deveria, assim, mudar sua ação de reprimir somente negros.

Os governos só vão mudar quando eles forem impactados pesadamente pela movimentação da militância nas ruas, pressionando-os para mudanças estruturais no relacionamento com os grupos étnicos historicamente vulneráveis.

Estes governos, vez por outra, têm cumprido um papel maquiavélico clássico: nas eleições, pegam os votos das periferias e no poder exercem através do aparelho policial uma pressão impar contra os jovens negros, que são empurrados para criminalidade, neste caso, têm suas mortes perfeitamente justificadas.

Acredito que chegou o momento da "academia", isto é, os intelectuais negros, nas universidades ou fora delas, tomarem uma posição sobre a questão. Devem exigir encontro com o Ministro da Justiça a quem cabe atender as demandas de legalidade e de estado de direito em nossa sociedade. Não é mais possível assistir passivamente este extermínio de jovens negros das periferias como se fossem animais para abate.

Dizem que existem 50 deputados federais negros e uma frente de combate antirracista no Congresso Nacional que envolve mais 100 parlamentares. Isto sem contar os parlamentares afrodescendentes nos estados e municípios.

O extermínio de negros mobilizaria este grupo de elite afro?

Não sabemos.

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