Espaço Ubunto

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domingo, 18 de setembro de 2011

Entrevista Carlos Moore: “É impossível falar do mundo negro sem falar de Fela Kuti”

Por Gabriela Moncau
O cientista político, etnólogo e jornalista Carlos Moore nasceu em Cuba em 1942, país do qual se vê banido há mais de 40 anos. Durante sua juventude aproximou-se dos ideais marxistas e revolucionários, bem como do movimento negro. Suas críticas ao regime cubano, principalmente no tocante às questões raciais, foi o que lhe rendeu duas detenções, uma num campo de trabalho, e a acusação de “subversão racial”. Na primeira, escapou por pouco do fuzilamento, e, por fim, uma longa trajetória de exílios até chegar à sua morada atual em Salvador, na Bahia. Sua militância política e convicção revolucionária, no entanto, permanecem intocadas. Entre importantes figuras do movimento negro com a qual desenvolveu amizades estão Malcom X, Aimé Césaire, Maya Angelou, Cheikh Anta Diop, Abdias Nascimento e Lélia González.

Já o nigeriano Fela Kuti (1938-1997) foi nada menos que o inventor do gênero musical afrobeat. Com influências e misturas do funk, soul, higlife, e músicas tradicionais africanas, ele não só desafiava os padrões da indústria fonográfica com músicas que ocupavam o lado inteiro do LP, como fazia denúncias diretas ao imperialismo europeu e norte- americano e aos governos militares neocolonialistas da África.
Gravou 77 discos, fundou uma comuna num gueto da cidade de Lagos que nomeou de República de Kalakuta, teve 27 esposas (que chamava de rainhas), tornou-se o inimigo público do então presidente militar da Nigéria, Olusegun Obasanjo. Fela foi preso inúmeras vezes e o principal ataque que sofreu foi em 1977, quando cerca de mil soldados invadiram e incendiaram sua casa, todos foram espancados e as mulheres estupradas, e sua mãe (com mais de 70 anos) foi jogada da janela do primeiro andar. Fela continuou fazendo sua música. Morreu em 1997 de AIDS, recusou o tratamento pois não acreditava na medicina ocidental.

As impressionantes histórias desses dois homens se cruzaram nos anos 1970, na Nigéria, e logo já se consideravam irmãos. Recentemente, Carlos Moore lançou no Brasil a biografia do gênio musical: Fela, esta vida puta. Originalmente publicado em 1982 na França e na Inglaterra, a versão em português chega quase 30 anos depois, e traz em uma escrita informal em primeira pessoa a impressionante história do multi- instrumentista e militante político que, como aponta Paulo Lins, “carregou um continente dentro do peito”.
Moore conta um pouco de suas experiências e críticas à esquerda tradicional, a história de sua amizade com Fela Kuti e o processo de elaboração do livro, o quase suicídio de seu “irmão” nigeriano, a importância do afrobeat – tanto como gênero musical quanto como ferramenta política – e a dificuldade de manter a essência crítica do gênero diante da cooptação dos cartéis fonográficos.

Para ler a entrevista completa e outras matérias confira edição de setembro da revista Caros Amigos, já nas bancas.

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