Coisa de Preto é a bruxaria contida num conto de Machado de
Assis.
Um samba escrito pela caneta de Mauro Diniz.
Coisa de preto é a poesia de Cartola.
Os dedos a bailar sobre
o violão de Paulinho da Viola.
Ah, só podia ser preto -
Romário, Imperador, Ronaldinho.
Responder ao racismo com
Lamentos em forma de chorinho.
Pixinguinha, preto rei,
rei dessa coisa escura.
Renato Gama autodidata
senhor da soltura.
Coisa de preto é
manter-se grande diante de quem mata.
É se precisar ameaçar
com canhão pelo fim da chibata.
Coisa de preto é viver
com alegria.
Inventar a matemática,
arquitetura, medicina, agricultura e filosofia.
Ser parte da primeira
civilização.
Ser senhor do Blues, do
Samba, do Reggae, do Pop, Soul, do Jazz.
Ter um mundo racista
curvado ao seus pés.
Pelé, Abdias, Martinho
da Vila, Elza Soares.
Coisa de preto é Dandara
mandando racista pelos ares.
Palmares...respeite e
pise devagar na ponta do pé.
Coisa de preto é a
beleza da casa de candomblé.
Coisa de Preto é fazer
deuses sobreviverem em navio cruel.
É manter amor a Terra
diante de um povo que a desdenha pelo céu.
Coisa de preta é
Jovelina partideira.
Milton, Djavan, Tim,
Alcione e Candeia.
Veja a noite Yurugu,
fique atento.
É preta a senhora dona
do vento.
Veja, estejas pronto e
ouvindo.
Pois é coisa de preto
branco pendurado pelo pescoço na Revolta de São Domingos.
Jonathan Oliveira Raymundo
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